Uma iniciativa adotada na Escola Estadual Tenista Maria Esther Andion Bueno, em Campinas, permitiu acolhida e saúde íntima para 90 alunas da unidade com a distribuição gratuita de mais de 5 mil absorventes desde outubro do ano passado de uma forma inovadora. Com investimento de R$ 3,5 mil do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) do Governo de São Paulo, a escola construiu um equipamento que fornece absorventes para as estudantes.
Com um mecanismo que envolve robótica e tecnologia maker de última geração, o engenheiro Diego Paixão, ex-aluno da unidade, construiu a máquina em quatro meses. Ela foi instalada num lugar reservado da escola para que as alunas retirem os absorventes com privacidade. A inauguração aconteceu em outubro do ano passado e, desde então, cerca de 650 pacotes já foram entregues.
O equipamento é simples. As alunas inserem um cartão magnético e recebem um pacote com absorventes. Segundo o diretor da unidade, Arnaldo Silva, devido ao caráter inédito da iniciativa, houve muita dificuldade de encontrar empresas dispostas em desenvolver a máquina. Mas, a iniciativa contou com a ajuda do ex-aluno e hoje contribui no combate à pobreza menstrual.
“Eu me sinto realizado, porque um dos propósitos, como diretor de escola, era fazer a diferença, inovar, modificar a vida das pessoas. Eu saí da sala de aula, não porque eu não gostava de ser professor, mas porque vi que, como diretor, minha ação poderia ter um impacto maior”, disse o diretor.
Desde a implantação do Programa Dignidade Íntima em 2021, com investimentos de R$ 30 milhões e, agora neste ano, com mais R$ 35 milhões, o Governo de São Paulo já garantiu a distribuição de itens de higiene menstrual a 1,3 milhão de estudantes em mais de 5 mil escolas da rede estadual. A compra dos materiais é realizada através do PDDE.
Antes da implantação do equipamento, mesmo com os recursos do PDDE para a compra dos absorventes, o diretor da escola notou que muitas alunas tinham vergonha de pedir o absorvente à gestão e continuavam faltando as aulas durante período menstrual. “Algumas chegavam até a chorar de vergonha. Normalmente, na direção da escola, eles deixavam um pacotinho de absorvente. Só que tinha a vergonha de chegar lá, pedir um absorvente e todo mundo vê você pegando”, relata Ana Carolina, aluna da escola.
E foi aí que o diretor viu a necessidade de dar a elas autonomia e protagonismo na entrega dos absorventes. “Conversei com as alunas da escola, com as professoras e demais servidoras, no sentido de pensarmos uma forma delicada e de entregar os absorventes para as alunas. Apresentei a elas a ideia de construirmos na escola uma máquina de absorventes nos moldes das maquinas de café, de refrigerantes”, explica.
O projeto vingou e a máquina está em pleno uso, funcionando em um dos corredores da escola, em local que evita o constrangimento e atende toda a comunidade escolar.
Agora é lei
Segundo a Secretaria de Educação, conceder às escolas recursos para adquirir artigos de higiene menstrual para as alunas em condição de pobreza e extrema-pobreza tem como objetivo garantir maior igualdade de oportunidades, bem como as condições necessárias de saúde e segurança para desenvolverem corretamente seu processo de aprendizagem.
O programa foi instituído por decreto de junho de 2021 pela Secretaria da Educação. Em 25 de fevereiro deste ano, seu projeto de lei foi encaminhado pela Secretaria da Casa Civil à aprovação da Alesp, tornando-se lei em 23 de março.
Em 2014, ONU (Organização das Nações Unidas) reconheceu o direito das mulheres à higiene menstrual uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Países como a Austrália, Canadá, Índia e Quênia e em 33 dos 50 estados dos Estados Unidos já possuem alguma política relacionada à pobreza menstrual.
Reportagem: Da redação. Foto: Divulgação.
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