Cerca de 40% da população adulta do Brasil sofre com dívidas. Um estudo da Serasa Experian, em parceria com o IBOPE Inteligência e o Instituto Paulo Montenegro, revela que o número de inadimplentes chegou a 63,2 milhões em abril de 2019, batendo um novo recorde histórico. Na comparação com o mesmo mês de 2018, são 2 milhões a mais de brasileiros com contas não honradas com o segmento de utilities (água, energia elétrica e gás) e de telefonia. Ainda que o desemprego continue sendo o maior vilão desse crescimento, a falta de escolaridade e de educação financeira também impacta no orçamento da população, principalmente em períodos de crise.
“Dinheiro não é coisa só de adulto. Uma pessoa educada financeiramente é aquela que está bem preparada para fazer boas escolhas com o seu dinheiro e usar corretamente seus recursos”, afirma o coordenador de Matemática nas turmas do Ensino Fundamental – Anos Iniciais do Colégio Marista Arquidiocesano, de São Paulo, o professor Patrick Lima. Ele informa que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já incluiu as finanças entre os temas que deverão constar nos currículos dos estudantes de todo o País. Desde 2010, a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) também prevê uma série de ações nesse sentido, tanto nas instituições escolares quanto nos órgãos do governo e da sociedade civil.
Ter disciplina com os gastos e fazer com que as preferências caibam no orçamento são algumas das melhores ferramentas para sair da inadimplência. O professor explica que existe uma grande diferença entre Matemática Financeira e Educação Financeira. “Enquanto a primeira é uma área que aplica conhecimentos matemáticos à análise de questões ligadas ao dinheiro e o sistema monetário, a segunda está diretamente ligada à formação de comportamentos do indivíduo em relação às finanças”, ele esclarece. Lima diz que ensinar as crianças a poupar dinheiro para realizarem seus sonhos materiais (comprar um brinquedo novo, por exemplo) e imateriais (como ajudar alguém que necessite) são temas recorrentes nas aulas de Educação Financeira do 2º ao 5º ano do Fundamental.
“Sempre falo que poupar inclui fazer pequenos sacrifícios a curto prazo para obter benefícios em alguns meses, a médio e longo prazo. Acho importante reforçar com os mais novos que poupança não pode se tornar avareza, que poupar não pode tirar do indivíduo momentos de felicidade somente com o pretexto de guardar dinheiro”, destaca. Os cálculos, projeções, vantagens de pagamentos à vista ou a prazo e resoluções de situações-problema com juros também fazem parte dos conteúdos para estudantes na faixa etária dos 6 aos 10 anos de idade.
“A contribuição mais importante da Educação Financeira é ajudar os estudantes a desenvolverem a capacidade de planejar sua vida, sua família, e tomar boas decisões financeiras”, explica a superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), Cláudia Forte. Ela reforça que muitos pais simplesmente não discutem questões de orçamento doméstico com os filhos e que isso pode tornar-se um problema para o futuro. “As crianças devem entender desde a mais tenra idade a diferença entre o que querem e o que podem ter”, diz.
O professor do Marista Arquidiocesano destaca que as férias e a volta às aulas podem representar momentos de mais gastos para os pais em julho e agosto, com despesas para viagens, novos materiais escolares e uniformes. Mas essas também podem ser boas oportunidades para mostrar aos filhos o valor do dinheiro e a importância de economizar. A redução de gastos nesta época envolve diversas rotinas, como organizar o lanche escolar junto com as crianças, fazendo escolhas saudáveis e mais econômicas para toda a família.
Dicas para ensinar finanças para os filhos em casa
Ofereça uma mesada educativa para ensinar seus filhos a planejar os gastos. Não dê mais dinheiro até o próximo pagamento e estimule o hábito de poupar. Mostre que é essencial ter uma reserva de emergência de pelo menos 20% do orçamento para situações imprevistas.
Ensine sobre o valor das coisas e o consumo consciente. As crianças e adolescentes precisam entender que o dinheiro é fruto do trabalho. Converse com elas sobre o orçamento doméstico e sobre os gastos dela mesma. Dessa forma, é possível identificar gastos supérfluos e identificar em que é possível economizar.
Leve-as ao mercado e incentive bons objetivos para gastar seu dinheiro. Esse passeio pode ser uma ótima oportunidade para seus filhos aprenderem a manusear moedas e notas pela primeira vez. Assim, aos poucos, serão capazes de perceber a lógica que envolve a troca do dinheiro por um produto ou serviço. É necessário estimular finalidades positivas, como um investimento maior em verduras, legumes e frutas orgânicas em vez de gastos com guloseimas industrializadas.
Por: Guilherme Ávila. Foto: Divulgação.
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