Copo meio cheio ou meio vazio da educação

Coronavírus: 6 dicas para estudar em casa - Educageral
Coronavírus: 6 dicas para estudar em casa
1 de abril de 2020
Professores dão dicas de atividades físicas em casa durante quarentena - Educageral
Professores dão dicas de atividades físicas em casa durante quarentena
7 de abril de 2020
Exibir tudo
Copo meio cheio ou meio vazio da educação - Educageral
Confira abaixo o artigo sobre o copo da educação completo

Um copo com água pela metade pode estar meio cheio ou meio vazio, depende do ponto de vista. Quem é da área de exatas, como eu, costuma ver os números com muita desconfiança – e sempre precisam de dados complementares para dar embasamento. Vou explicar.

Quando a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou o relatório Education at a Glance, uma reportagem pegou um recorte da pesquisa e comemorou o dado que mostra que, no Brasil, um diploma de nível superior pode significar um aumento de até 156% no salário. Com pós-graduação, é possível ter um rendimento mais de quatro vezes maior (350%) na comparação com quem só tem o Ensino Médio. Esses números são verdadeiros – e excelentes para as mais de duas mil Instituições de ensino superior espalhadas pelo país. O que a reportagem não apresentou é que esses números podem ser péssimos para o Brasil. 

 

Por que? 

Porque a média entre os países da OCDE é de um salário 40% maior para quem concluiu a graduação. A renda maior proporcionada pela escolaridade é uma prova de como a sociedade brasileira ainda é desestruturada e desigual. O Brasil é hoje um dos países da OCDE com o maior número de habitantes sem diploma do ensino médio (52% dos adultos) – e onde apenas 15% da população tem formação superior.

Pesquisadores de Educação usam um conceito da economia para explicar esse cenário: é o chamado signalling model, desenvolvido na década de 1970 pelo Nobel de economia canadense Michael Spence. Ao ter um diploma de Ensino Superior — algo que mais de 80% da população brasileira não tem — um jovem já apresenta um diferencial na hora da busca por um emprego. E o potencial de ganhos é ainda maior se ele cursou uma graduação em uma instituição vista como prestigiada pelo mercado de trabalho.

 

O Ensino Superior influencia gerações

Crianças com pelo menos um dos pais diplomado têm 60% de chances de chegar à universidade, probabilidade que cai para 15% quando os pais não completaram o ensino médio. E essa influência chega inclusive à saúde. Um homem de 25 anos que frequentou faculdade pode esperar viver quase oito anos mais do que seu par de pouca escolaridade. Entre as mulheres, a diferença é de 4,6 anos, segundo o relatório da OCDE.

Podemos dizer que, com a evolução da educação a distância (EAD) no Brasil, uma maior parcela da população conseguiu ter acesso a uma graduação, seja pelo custo mais baixo, menor barreira de distância ou, ainda, a possibilidade de conciliar o estudo com o trabalho. O Censo da Educação Superior do Ministério da Educação mostra que o acesso à graduação vem evoluindo: o número de alunos cursando o ensino superior no Brasil aumentou 44,6% entre 2008 e 2018. No ano passado, cerca de 8 milhões de pessoas estavam na faculdade (75%, em instituições privadas).

 

Estamos no caminho certo

Mas ainda muito longe do ideal. Não nos deixemos enganar por números isolados. É preciso ver os dois lados da moeda e fazer comparações antes de começar a comemorar. E não adianta comparar a gente com nós mesmos. Por exemplo, ter um diploma e ganhar o dobro da média da população brasileira pode não representar muita coisa. Quem recebe mais que R$ 5.214 por mês já está entre os 10% mais ricos do Brasil. Isso é quase sete vezes mais do que a média do rendimento real de metade da população, que é de apenas R$ 754, segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad), do IBGE. Entre os países da OCDE, o rendimento médio mensal é equivalente a quase R$ 7 mil.

Esses são alguns exemplos de que o mesmo número pode ser bom ou ruim. Depende se você enxerga o copo meio cheio ou meio vazio.

 

*Paulo Arns da Cunha é presidente da Divisão de Ensino da Positivo Educacional.

 

Por (copo da educação): Paulo Arns.  Foto: Divulgação.

Para conferir outros artigos como este acesse o link.

Comentários